sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Vendedor de Sonhos

Era um vendedor de sonhos, velho, careca e cansado. Nada gentil de feições, nada afeito a longas conversas sobre água, pedras ou mesmo sonhos. Vendia, qual vendedor ambulante com pressa de chegar ao seu próximo destino. Quem sabe o que o esperava no fim do seu caminho, mas ele era de facto um vendedor de sonhos. (Quem o tornou vendedor do sonho alheio? Fiel companheiro da noite cansada?)

É-me difícil explicar como vêm os sonhos embrulhados, por isso descrevo aquele que vi comprado. O menino chegou-se perto do vendedor em que não confiava e pediu-lhe o sonho mais querido que lhe agitava o luar. O seu sonho mais querido que ganhava contornos fora da almofada.Contornos que por vezes não queremos dar a sonhos porque nos forçam a concretizá-los, a tornar reais aquilo que nuvens não se dignam a definir. Não vinha embrulhado este presente, vinha cravado com palavras e ilustrações na casca de uma nogueira. Nunca lhe vi os contornos porque não se destinavam a meus olhos. Vi antes medo espelhado em outros olhos. O menino comprou aquilo que lhe permitia tornar o seu sonho no seu dia-a-dia, uma especificação concreta e delineada daquilo que o sonho nunca lhe disse ousar. Era um sonho lindo, explicado e descrito, audaz, seu. E agora só lhe restava.. concretizá-lo.




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