segunda-feira, 11 de julho de 2016

Um homem reles.

Era um homem reles. Daqueles que em fins de tarde nos fazem desviar com receio do seu odor a trabalho se entranhar em demasia no nosso nariz.
Tinha uma cara rude, demasiado angulosa, muito porosa. Não se vestia bem, claro está, as cores e cortes das suas roupas tendiam a não combinar umas com as outras. E as tatuagens, as tatuagens de guerra colonial, feitas a agulha e muito perfeitas para a imperfeição dos meios, mas que lhe envelheceram na pele dos braços, assim como os ideais que protegiam. A mãezinha já morreu. A colónia também. Agora existe apenas esta vida de acartar com coisas e um voltar para uma casa sem família.
O mais marcante, é claramente a cicatriz, que lhe poupara o olho, mas lhe vincara a maçã do rosto e lhe separara a orelha esquerda. Era apenas uma linha, que aclarara com o tempo, uma ténue linha, mas que lhe aguçava a rudeza do rosto, a dificuldade da vida, a verdade da condição. Esta linha ténue separava-lhe o rosto e os sonhos do que poderia ter sido a sua vida, o "sem" a guerra e a realidade do "com".
Tornara-se, porque ninguém nasce, um homem reles.