domingo, 20 de novembro de 2016

Review "O Lado Selvagem"

O Lado Selvagem by Jon Krakauer*****

O Lado Selvagem - Jon Krakaeur


"Há alguns anos vi o filme “Into the wild” e não pude deixar de ficar intrigada com as motivações de Christopher McCandless para a sua vida isolada no Alasca. Bem, a atração pela descoberta da Natureza consigo entender, mas a vontade de viver situações tão extremas que lhe foram fatais, é-me de difícil compreensão. Quando se sente fraco e sem comida, porque não caminha até algum lado? Até porque ironicamente não estava assim tão longe da civilização, ainda que ele não o soubesse. Porque cortar os laços familiares tão profundamente, mas enviar inúmeros postais para pessoas que conhece no seu caminho?
Jon Krakauer escreve uma bela reportagem sobre o percurso dos últimos anos deste jovem. Ouvimos as pessoas com quem ele privou e lemos os postais que lhes enviou. Todo o livro está bem enquadrado, bem relatado, e cheio de dinamismo. Cada capítulo é introduzido por passagens de literatura, quer de autores de viagens e aventureiros, quer por livros que acompanhavam Chris na sua derradeira viagem. O autor coloca também relatos de várias experiências que de alguma forma se assemelham à viagem de Christopher, inclusive uma de si próprio.
O jornalista e autor, também ele adepto de emoções fortes de alpinista, descreve emoções e relações de uma forma tão intimista que só se consegue com uma elevada empatia pelo que estamos a descrever. Este livro completa na perfeição as emoções despoletadas pelo filme e a curiosidade fica quase satisfeita."

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Depois de ler um livro que de alguma forma me marca, pesquiso sempre alguma informação.

Por isso, para ver fotografias reais: Christopher McCandless Info 

A emblemática 1ª fotografia em que Christopher se coloca em frente do autocarro do Alasca:

Resultado de imagem para Christopher McCandless

A mensagem que deixa anotada no último livro que leu: "Happiness only real when shared".



E a derradeira fotografia, poucos dias antes de morrer, com uma magreza extrema e desnutrição, deixando uma mensagem bonita e positiva ao mundo.

McCandless in Alaska

Mensagem no papel:

"I have had a happy life and thank the Lord. Goodbye and may God Bless All!"

Última fotografia de Christopher. Fonte: Outside Online  



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Review "Síndrome de Antuérpia"


***
Síndrome de Antuérpia é um livro que se propõe a resolver um crime e a decifrar as gentes de uma povoação. Num dia de festa, Castiça, nascida Célio, é morta de forma violenta e deixada no fundo da pedreira da vila. Pouco depois, prendem o herdeiro de vastas terras na povoação, Justiniano Alfarro, por este crime. E, assim, com a promessa de segredos ocultos e realidades difíceis de acreditar, leva-nos o autor a começar o livro.
Resultado de imagem para sindrome de antuerpiaNão pude de deixar de comparar este livro a um do mesmo autor (“Terra dos Milagres”), que se demonstrou disruptivo e de personagens muito ricas. Infelizmente, “Síndrome de Antuérpia” ficou aquém. Ainda que a estória de base desse um bom conto, faltou-lhe substância para encher tantas páginas, sendo que o autor se perde inúmeras vezes em descrições demasiado extensas e irrelevantes para o enredo principal. Relativamente às personagens, existem poucas e muito estereotipadas, sendo as mais interessantes e invulgares, Antuérpia, filha de Justiniano, a sua avó (mãe de Justiniano) e as irmãs Veneno. Em geral, o autor descreve uma comunidade resignada aos seus papéis sociais e em que todos parecem ser mutuamente manipulados num constante jogo de aparências.

Ainda assim, gosto muito do estilo de escrita do autor, que brinca gentilmente com as palavras. 

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Unicórnio

"Por ser criativo e viver no seu próprio mundo choca-se, muitas vezes, com a crueldade da realidade, com a hipocrisia do mundo, com a redundância de dias sem amor. "

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Dona Maria do Bairro

A Dona Maria do nosso bairro há muito que se conformou com a sua entrada na terceira idade. Quem a convenceu foi certamente a perda de agilidade do corpo (cai muito frequentemente), a falta de visão (à qual recusa os óculos), os dentes que se tornam gastos (incluindo aqueles que já são artificiais), mas essencialmente o inchaço das articulações e o engrossar da sua pele adiposa.

A vestimenta também parece, por vezes, desleixada, os tecidos pouco nobres e a esgaçar, um misto entre roupa de senhora e fato de treino. Isso não a preocupa, prende-a uma causa maior, de que só nos apercebermos se a virmos no ir em vez de no voltar.

No ir arrasta o seu carrinho de compras com padrão axadrezado, companheiro fiel de compras de quem se desloca a pé. Deste carrinho, sai espetado um comprido tronco de uma árvore jovem. Uma nespereira?

"Então, Dona Maria, vai lá ao talhão plantar a árvore?"

"Sim, tem de ser! A ver se me deixam entrar com a árvore no autocarro. Mas se aos turistas deixam entrar com aquelas malas enormes!"

E assim a deixaram entrar, a ela e à sua missão. A de plantar uma árvore a dois autocarros de distância de sua casa. Dois autocarros! Nos quais entra de forma atabalhoada e quase quebrando o topo da árvore (se não fora avisada pelos restantes!) para a ir plantar num talhão. No tal talhão. A que a curiosidade nos prende, mas nenhuma resposta obtemos.

Quando saí, as companheiras do autocarro dizem que a vêm frequentemente a falar sozinha. Ela não fala sozinha, ela preenche o silêncio de sua casa com as palavras e, esquece-se que na rua já não precisa de o fazer. Na rua há tanto ruído e tantas gentes com quem entabular conversa... Falar sozinha são as defesas que a mente vai criando para se soltar da solidão.

Se encontrarmos a Dona Maria no voltar, já sabemos que estará suja, mas sorridente e poderá vir a falar sozinha. Ainda arrasta um carrinho de mão de compras, mas fácil de transportar, leve com a leveza da alma com missão cumprida.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Os novos caminhos

Há um curioso destino em nos deslocarmos de outra forma. Hoje atravesso a minha cidade de comboio. Sento-me no piso superior onde vejo o céu a puxar chuva.
É que hoje cheira mesmo a chuva. E esse cheio é belo. E este caminho também. E há tantas pessoas neste meio. Neste meio caminho.
No caminho de todos os dias já me acostumei ao livro duma rapariga que é sempre o mesmo (por mais livros que eu troque entretanto). Já me acostumei ao caos semi-organizado daqueles que caminham sempre com pressa. Sempre.
Neste novo caminho vejo um senhor de meia-idade, ou um pouco mais novo, que usa sapatos de vela coçados sem meias e esforça-se por conseguir ler. Primeiro um caderno de pautas musicais. Vejo-lhe os lábios a movimentarem-se e a não produzirem o som da sua cabeça.
Tem um cabelo que ondula e uma barba perfeita. Atravessa-lhe o peito algo laranja. Uma gravata laranja? Seria demasiado gritante. Não, trata-se de uma mala, onde tudo o que ele começa lá acaba. Guarda então a pauta desanimado. Pega no kindle. Tenta mover os lábios. Perde-se o olhar no exterior. De novo. Desiste de ler e retorna o kindle à mala-Doramon. Onde vais tu, músico de comboio?
Onde estão as tuas meias neste dia frio?

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Cabeça cheia de ar

A cabeça bem que lhe voava para umas nuvens que ela não queria alcançar. Deixava-a voar porque era a forma de ser ela própria. Como se uma cabeça esvoaçante e cheia de ar pudesse definir algum "ser". Não podia, nem queria definir. Almá era a indefinição em pessoa. Alguém em que os contornos só destacavam os vazios. Um rabisco a carvão. Uma aguarela a quem faltara a água ou a tinta.
Ausente e com a cabeça em outro lugar, não tinha outra escolha que não a de ser feliz.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Review: Pilares da Terra ****



Review do 1º volume:

Este romance, o primeiro de dois, começa de forma lenta, com suavidade. Faz-nos conhecer as suas personagens de um ponto de vista externo, mas descrevendo tão bem os seus pensamentos e emoções, que somos obrigados a empatizar com eles. Quando já estamos presos, seguimos com ansiedade as aventuras (sim, porque naquele tempo, conseguir não morrer à fome era uma aventura), contratempos e desafios destas personagens: Tom, o pedreiro e seus filhos; a misteriosa Ellen e seu filho; William, o nobre de cabeça quente, e sua família; o mágico monge Philip e seus companheiros monásticos.
Outras personagens surgem, claramente, para desafiar a nossa atenção ao pormenor, assim como intrigas, conflitos e ambição desmedida.

O autor faz uma caracterização óptima e nada exaustiva do século XII de Inglaterra com o pretexto de descrever a construção de uma catedral. E, ainda que seja central a construção da mesma e a deslocação de interesses para este fim, o livro mostra-nos muito para além disso, faz-nos imaginar como seria viver naquela época. Em que classe social nos inseriríamos? Seríamos um homem ou uma mulher? Os nossos pais sobreviveriam intactos para cuidarem de nós até sermos autónomos?
Fantástico, deveras. Contente por já ter o segundo para começar a ler.

Review do 2º volume:

O segundo volume dos Pilares da Terra começa acelerado e é uma directa continuação do primeiro. Estes livros têm qualquer coisa que nos vicia, que nos faz querer virar páginas e saber como tudo termina. É uma verdadeira saga, cheia de acção e, com alguns abrandamentos em que escutamos as personagens no seu íntimo. Lemos também descrições complexas sobre a arquitectura de igrejas e catedrais, sendo que nem todas se encontram bem encaixadas na estória. O autor introduz também algum contexto histórico, uma vez que acompanhamos a trama política da época assim como descrições de como seria a vida naquela época. É-nos apresentado um mundo de jogo de intrigas, poder, ambição, de desigualdade entre classes e de violência. 

No centro desta estória estão as suas personagens, praticamente sempre as mesmas desde do início do romance e, ainda que algumas sejam bastantes ricas como a diferente Ellen e seu filho Jack, há outras que são bastante planas. Gostaria de ter visto o autor arriscar-se mais e utilizar diálogos contemporâneos das personagens e não tão modernos. 

No fim ficamos com alguma pena de termos acabado e começam as saudades das personagens que nos povoaram o imaginário nos últimos tempos. 

Gostei muito.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Um homem reles.

Era um homem reles. Daqueles que em fins de tarde nos fazem desviar com receio do seu odor a trabalho se entranhar em demasia no nosso nariz.
Tinha uma cara rude, demasiado angulosa, muito porosa. Não se vestia bem, claro está, as cores e cortes das suas roupas tendiam a não combinar umas com as outras. E as tatuagens, as tatuagens de guerra colonial, feitas a agulha e muito perfeitas para a imperfeição dos meios, mas que lhe envelheceram na pele dos braços, assim como os ideais que protegiam. A mãezinha já morreu. A colónia também. Agora existe apenas esta vida de acartar com coisas e um voltar para uma casa sem família.
O mais marcante, é claramente a cicatriz, que lhe poupara o olho, mas lhe vincara a maçã do rosto e lhe separara a orelha esquerda. Era apenas uma linha, que aclarara com o tempo, uma ténue linha, mas que lhe aguçava a rudeza do rosto, a dificuldade da vida, a verdade da condição. Esta linha ténue separava-lhe o rosto e os sonhos do que poderia ter sido a sua vida, o "sem" a guerra e a realidade do "com".
Tornara-se, porque ninguém nasce, um homem reles.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Com tempo

Com tempo, com paciência, tudo muda, acalma, transforma, evolui. Com calma, meditação, perseverança, amor.

Com tempo voltamos a acreditar em dias, seguidos de dias, cheios de dias mais.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Um dia comum naquela praia

Era um dia comum e nada tinha para fazer. Enfiei uma roupa qualquer, cerrei a porta com força e, quase sincronizado com esse bater, iniciei a procura das chaves no meu bolso vazio. Depois a busca no outro bolso. Vazio. Ausente.

Sou sempre um bocado assim, já nem me canso com esta mundana repetição de esquecimentos. O que eu precisava mesmo era de passear que a cabeça me ardia mortalmente.

Agarro na bicicleta-velha e pedalo. Esquerda. Direita. Esquerda. Direita.
             Agora com mais vigor.
            Agora por mais tempo sem descansar.
            E o tempo e o vento esvaziou-me o pensamento. As minhas passadas rolantes levaram-me à praia. Àquela praia.

            Estava bonito e airoso o tempo. O mar não tinha pressa no seu enrolar. O sol ainda se enublava no seu olhar. Peguei no meu livro de bolso, amachuquei-me na areia húmida e tentei concentrar-me. Há já uns dias que este Ensaio de Dom Juan não se acabava e havia que acabar, não era? Temos sempre coisas para fazer que não nos faz sentido fazer, mas que não deixam de obrigar.
            Passei por duas páginas, ou era a mesma que se folheava nos meus olhos? Quem disse a algum autor em algum lugar que os livros se lêem melhor em letras pequenas e em palavras confusas? Bem, confusas como estas mesmas palavras confusas.

            Do nada, dei um valente berro (e eu que nem sou daqueles de gritar!). Quem é que me mordeu o traseiro como se de comida se tratasse?

            Comecei a varrer o ar à minha frente com aquele meu olhar acusador. Serão aquelas duas miniaturas de pessoas, que brincam com miniaturas de si próprias, os portadores de tais afiadas dentuças? Tento intimidá-las com o meu olhar irado... Nada. As crianças continuam a brincar em perfeito silêncio. Senti ainda mais a urgência de encontrar o/a causador(a) do mau estar da nádega, [até porque precisava de perceber possíveis fontes de infeções carnais].


            No canto do meu campo de visão surge um movimento... é o meu chapéu de feltro que caminha de forma sorrateira? E, porque brincam crianças em pleno silêncio? Meio a medo, cheio de curiosidade, ergo o dito objecto e vejo um crocodilo bebé. Sim! Um crocodilo bebé de cor verde-bela, olhos enormes e com um olhar de pedir desculpa que comoveria até o mais magoado rabo. Um sorriso força-se na minha expressão (só me apercebo porque tenho os músculos destreinados deste movimento), eu nunca tinha posto os olhos num crocodilo. Aproximo a mão e acaricio o sedoso que são as suas escamas, a minha mão escorrega como em pelo. Ele então começa a farejar a minha perna e o calor atinge-me em pequenas lufadas de prazer. Fico arrepiado quando ele, com imensa agilidade, começa a trepar por mim acima, fazendo-me cócegas nas costas. Estou, assim, de olhos meio cerrados quando o bichinho se aproxima do meu rosto. E, ai, que choque! Uma onda de cheiro não-nada agradável entranha-se bem no meu nariz. Arregalo de imediato os olhos. Porque me morde uma ratazana-verde o queixo? Onde está o crocodilo?

terça-feira, 7 de junho de 2016

Wangari Maathai

"A educação, se significa alguma coisa, não deveria afastar as pessoas da terra, mas incutir-lhes ainda mais respeito por ela, porque as pessoas com educação estão em posição de compreender o que está a ser perdido. O futuro do planeta diz respeito a todos nós, e todos deveríamos fazer o possível para o proteger. Como dizia aos silvicultores e às mulheres, não é preciso ter um diploma para plantar uma árvore." 
by Wangari Maathai

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Review: Em teu Ventre

***
É o meu primeiro livro do autor e achei-o fácil de ler e de gostar. Trata-se da descrição do milagre de Fátima pela perspectiva da mãe de Lúcia, de pequenas notas feitas pela própria Lúcia, de Deus que fala em verso e de uma outra mãe mais moderna (a mãe do autor?). É poético e filosófico e a minha parte predilecta são as intervenções de Deus. Está muito bem escrito e gostei das reflexões sobre o papel da(s) mãe(s).

Contudo não satisfaz a curiosidade de um verdadeiro romance histórico, uma vez que não se trata de uma descrição fluída de acontecimentos, enriquece-nos apenas a imaginação do que terá sido a euforia e a magia das aparições. Para além disso, o autor opta por não se comprometer com uma opinião sobre o que terá ocorrido.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Lila e o Jogo de Deus - Umi Sinha

*****
“Belonging” é um título perfeito para este livro (mais apropriado que a versão portuguesa “Lila e o Jogo de Deus”). É um livro que nos cativa do primeiro ao último fôlego e eu não era cativada assim há muito tempo. É belo, curioso e raro.
Ainda que seja uma obra de ficção tem uma relação profunda com a história da época e deita um olhar próximo na evolução da relação entre Inglaterra e Índia desde meados do século XIX até ao final da 1ª Guerra Mundial.
A estória é contada a 3 vozes que representam 3 geração de uma mesma família, cujos relatos são feitos de diferente forma e se intercalam sequencialmente. Estas três personagens são densas e tive empatia com as três.
Lila, a neta, relata a sua estória desde que testemunha o suicídio de seu pai, Henry. Henry, por sua vez, expressa-se até de palavras num diário desde que é jovem. Ouvimos Cecily, a mãe de Henry, através de cartas à sua irmã gémea, Mina.
É uma estória sobre história, tolerância e confiança, mas que também fala de amor, esperança e relacionamentos.  

Há vozes que rezamos para que se tenham silenciado apenas momentaneamente e, apesar de já sabermos quase o desfecho, enganemo-nos. Há tantos detalhes e presentes deixados pela escritora. 

sexta-feira, 11 de março de 2016

Ser feliz é...

"Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um 'não'. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..." de Fernando Pessoa

quarta-feira, 9 de março de 2016

Alma de artista

Hoje uma velha amiga, com quem não convivo há muitos anos e que já me conheceu a estudar engenharia, fez-me sorrir ao dizer:
"Continuas c alma de artista".

É bom quando os gostos, mesmo que sejam rabiscos a aguarela, sejam um facto sobre nós que transparece. Mais engraçado é ainda quando nos descobrimos nos olhos das outras pessoas. 

The show must go on

E porque por vezes tudo grita, "the show must go on".


#02 Alfredo, o pinga-amor

Alfredo é um pinga-amor que voa de flor em flor no seu voo lento e gabarolas que procura a mais suculenta de todas. Quando lhe chega o odor ao nariz de uma doce pétala, faz pontaria e aterra devagar.
É sempre um cavalheiro na sua abordagem de amor, pelo que se apresenta, explica as suas intenções fazendo uso de uma pequena canção, até porque acredita que os seus dotes musicais renderão ao seu beijo até as mais desconfiadas donzelas. E, invariavelmente tem a sua permissão para roubar à mais bela flor o seu delicado pólen para poder manter a sua posição de abelha mais produtiva da colmeia, aquela que encontra sempre néctares ímpares. 
Vivia Alfredo, a abelha de maiores asas do bando, com a confiança de um imortal, quando um dia uma dor lhe acode nas costas e lhe faz derramar todo o seu pólen sobre a relva. Tem de fazer uma aterragem de emergência na pétala mais próxima, porque o seu voo ficou descontrolado com o medo. Que dor é esta que lhe aflige até os pelos? Ao ver o seu reflexo numa pequena gota de orvalho verifica que uma ferida se abre entre as suas asas de onde sangue jorra. Abre e expande enquanto Alfredo olha e parece não se controlar. Alfredo recorda que já tinha ouvido relatos de abelhas que se enchem de autoconfiança de tal forma que o próprio corpo se desfaz de arrogância. Então relembra-se que o pólen é muito peganhoso e, pronto, lá vai a abelha esfregar-se no pólen, não contando que as asas também ficariam comprometidas neste processo…

Hoje em dia, Alfredo, já mais idoso, enverga o seu cargo de ancião de asa única, ensina composição de música a abelhas-cavalheiras mais jovens para se engalarem das flores. 

sexta-feira, 4 de março de 2016

O Bem em Cadeia

Quem melhor me conhece sabe que acredito que o bem gera bem, um sorriso resulta noutro sorrido, num ciclo sem fim que pode criar maravilhosas surpresas na vida.
Recordo aqui aquele filme mágico que vimos em crianças, Favores em cadeia (link), que nos marcou e que por vezes esquecemos...



Gosto de outros ciclos também, ou melhor, de espirais que vão crescendo e expandindo na nossa relação com os outros ou com as coisa que gostamos de fazer.
Ler mais faz-me querer ler mais e gostar mais da estória, que por sua vez me faz escrever mais que por sua vez me faz querer ler mais. E vivo alegre e contente no mundo das palavras!



quinta-feira, 3 de março de 2016

#01 de rompante

Quando chegaste foi de rompante, o teu corpo forçando a porta e substituindo-a na separação entre mim e o mundo fora dela. Trazias contigo a réstia de vida que existia. Estavas impregnado no teu perfume suave ou o meu olfacto retornou a este cheiro sem realmente o sentir.
Quando chegaste o teu corpo pareceu-me difuso, como se fosse feito de fumo, mas o teu rosto estava determinado e assustado. Foi neste rosto familiar que li que eu fora longe de mais e, que a fúria e o medo te consumiam internamente enquanto eu me consumia fisicamente.
E sorri, porque é sempre bom encontrar-te, continuas a ser o meu rosto favorito. A fala tropeçou-me na tosse e nada te pude dizer. Devia parecer-te tão tonta... Sentada impotente numa sala laranja ardente com um fio de fogo a soltar-se dos fósforos das minhas mãos caídas. Tão tonta e desamparada.
Quando chegaste, soube-me condenada à vida de loucura que se ia anunciando ultimamente no meu olhar, como me dizias, e nas minhas mãos queimadas que agora vias. Soube que não ias acreditar que só queria ver o fogo bruxulear fora da minha mente e não que todo o quarto pegasse fogo e se tornasse cinzas comigo dentro.
Quando chegaste, soube-me presa porque era esta a loucura que não toleravas: a de a mim te retirar de ti; a que o fogo que me corria dentro me queimasse o corpo e o apartasse da alma.
Pegaste em mim e tiraste-me do meu sonho, abandonando-me o corpo no primeiro hospital. “A última salvação de uma alma perdida é a do amor eterno.”
Quando chegaste, soube (ainda sei) que nunca mais te verei neste local louco onde de mãos mais atadas nunca mais atentarei.
Sei também que o fogo viverá para sempre apenas dentro de mim.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A tua estrela, amigo.

Será que a estrela para onde olho é a tua estrela? Sou guiada pelo coração e gosto de pensar que este nunca se engana.
Querido amigo, sentimos falta da tua alegria por cá. O tempo passa e voa mesmo, mas há sempre espaço no coração para ti.
Obrigada pela luz do teu sorriso.
Boa estadia aí nessa estrela fofinha que parece acomodar-se a ti.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Barrita de cereais - Aveia, Caju e Maçã

Para o meio da manhã é sempre bom comer uma barrita de cereais caseira. São mais suculentas e levam apenas aquilo de que gostemos.

Adaptei uma receita do Peso Pesado com aquilo que tinha em casa (ver aqui).

Ingredientes:

  • Uma mão de frutos secos variados (coloquei uma mistura com passas, amendoas e amendois)
  • Igual quantidade de (: flocos de aveia e de cajus crus (sem sal nem fritos)
  • 3 colheres de sopa de coco em pó
  • 1/2 colher de chá de noz moscada
  • 1 colher de chá de canela
  • 1,5 colher de sopa de mel
  • 1 ou 2 maçãs
  • 50 g de abóbora
Como cozinhar:
  1. Preparar o puré:
    1. Descascar a abóbora e cortar em pedaços
    2. Retirar os caroços da maçã e cortar em pedaços (não retirar a pele)
    3. Colocar a maçã e abóbora numa panela a cozer a vapor (aumenta o sabor)
    4. Quando tiver cozido, triturar a mistura com a varinha mágica
  2. A barrita
    1. Triturar a aveia e o caju - utilizei um almofariz para não ficar totalmente em pó, mas pode ser utilizado 
    2. Misturar toda a "farinha", frutos, temperos e puré
    3. Envolver bem a mistura até que fique tudo com uma coloração semelhante
  3. Cozinhar:
    1. Pincelar azeite numa travessa
    2. Colocar no forno pré-aquecido a 180º 
    3. Retirar quando começar a tostar (+/- 5 min)
    4. Cortar em fatias. - Caso não esteja com um aspecto totalmente cozido a parte que não ficou tostada, virar e colocar no forno até a tostar também. Ganhará uma consistência mais rígida a barrita.
  4. Como conservar:
    1. No frigorífico por 5 dias
    2. No congelador por 3 meses

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Um espaço de silêncio

Tudo acontece porque acontece. Tudo acontece mesmo que sem sentido e ganha sentido com a maturidade da vida. Somos quem somos pelos processos que passamos na vida. Tudo é certo mesmo o incerto.

Determinação. Destinação. Definição. Certeza.
E um silêncio no coração para ter espaço de ouvir o que nos é dito por nós próprios.

Hoje entro num silêncio meu com alguém que me é muito querido. Entro de espírito confiante e com roupa quente. Sem espectativa porque só assim o mundo se torna mágico.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Desafio de Escrita Criativa #02

Há um ano e meio atrás participei num Concurso de Escrita Criativa. Tive algumas dificuldades em libertar a imaginação e escrever fora do que normalmente escrevo, mas foi bom, muito bom.

Este ano começo de novo. Até lá!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Não temos medo

Não temos medo quando caminhamos no escuro.
Não tememos dar passos incertos.
Não somos assustados nem assustadores.
Temos certezas.

Caminhamos com a confiança de que somos velados,
de que somos necessários.
E assim sabemos que somos peças do mesmo engenho, que não tem como funcionar semnosco.

Caminhamos sempre, sempre adiante,
                                                    adelante,
                                                       adelgançante.

Partes somos todos, mas de que todo?


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Esparguete de courgette + Feijoada de soja

Comprámos mais um utensílio de cozinha: o spiralizer! Escolhemos um spiralizer simples, que parece uma afia-lápis para vegetais, com boas lâminas que consegue converter quase qualquer tipo de vegetal em forma de esparguete. 
Experimentámos com uma courgette e a semelhança na textura ao esparguete é fantástica! Já para não mencionar a rapidez de cozinhar. 

Para 4 deliciosas refeições preparámos assim :): 

Ingredientes:
  • 2 courgettes médias
  • 1 fatia de abóbora 
  • 1 cebola média
  • 3 tomates maduros
  • 1 lata de feijão vermelho
  • 100 g de soja granulada
  • Azeite qb
  • Sal qb
  • Ervas aromáticas a gosto
  • (opcional) Queijo parmesão ou um queijo em fatia 
Como o cozinhar:
  1. Preparar um refogado com os tomates pelados e a cebola picada.
  2. Cozer a vapor a abóbora e acrescentar ao refogado.
  3. Demolhar a soja granulada.
  4. Quando os legumes do refogado começarem a amolecer acrescentar a soja. Pode ser necessário acrescentar um pouco de água a ferver, uma vez que a soja absorve muita água.
  5. Quando estiver tudo bem cozinhado, adicionar os feijões para aquecerem.
  6. Utilizar o spiralizer na courgette. Colocar o "esparguete" em água a ferver por 40 segundos, adicionando um pouco de sal. Escorrer e servir.
  7. Sirva com uma fatia de queijo por cima ou polivilhando queijo parmesão.



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Hambúrguer Tremoço e Grão de Bico

Simples e apetitosos, são os hambúrgueres de Tremoço e Grão de Bico!

Ingredientes:
250 g de Tremoço
200 g de Grão de Bico
1,5 cebola média
2 dentes de alho
1 ovo
Pão ralado ou algum tipo de farinha
1 colher piri piri
1 colher chá Açafrão ou Ras el hanout
1 colher chá Coentros em pó
Azeite qb

Esta receita não necessita de adição de sal e dá para 6/7 hambúrgueres! Os tremoços e o grão podem ser descascados para se tornarem menos indigestos. Se optar por utilizar o passe vite, pode triturar e separar as cascas simultaneamente ;)

Como preparar:
  1. Refogar cebola, alho, açafrão e coentros numa frigideira com azeite. Deixar aloirar e reservar
  2. Descascar o tremoço e triturar/esmagar (usamos o passe vite que faz 2 em 1)
  3. Triturar o grão previamente cozido
  4. Numa tigela adicionar:
    1. Tremoço
    2. Grão
    3. Refogado
    4. Ovo cru
    5. Temperos (açafrão, coentros, piri piri)
  5. Misturar tudo bem e ir adicionando pão ralado para consistência
  6. Retirar uma dose e polvilhar o exterior com pão ralado
  7. Colocar numa frigideira com um pouco de azeite 
  8. Quando alterar a cor, retirar, empratar e devorar. 


Como empratar:
  • Pão de Aveia + Hambúrguer + Fatia de queijo + Doce de Cebola
  • Arroz + Quinoa + Bulgur (cozido todos na mesma panela, já que têm tempos de cozedura semelhantes)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Lamechas

Lamechas ou não, gosto de ti. E, mais lamechas ainda, gosto de to dizer e demonstrar. <3
Peço desculpa aos restantes.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Hambúrguer de Feijão Preto e Arroz

Com a entrada num novo ano, tomam-se sempre novas decisões.
Para 2016, queremos dedicar-nos a explorar o Flexitarianismo - uma dieta vegetariana com algumas refeições ocasionais de peixe e mais raramente de carne.

Os hambúrgueres são um dos alimentos mais simples de cozinhar na sua versão vegetariana e, ontem dedicamo-nos aos "Hambúrgueres de Feijão Preto, Arroz e Quinoa".



Ingredientes:
1 lata de feijão preto pequena
1/2 copo de mistura em igual parte de arroz e quinoa
1 chávena de Amêndoas torradas
1 ovo
Pão ralado
1 cebola
1 alho francês pequeno
3 dentes de alho
Coentros qb
Sal qb

Como meter as mãos na massa:
  1. Cozinhar o arroz com a quinoa na porção 2 de água para 1 de conteúdo. Reservar
  2. Cozer o feijão e deixar arrefecer
  3. Refogar cebola, alho francês e alho picados até alourar
  4. Num recipiente, juntar o arroz/quinoa, feijão, refogado e adicionar as amêndoas
  5. Triturar a mistura com a ajuda de um processador de comida
  6. Depois de triturar, adicionar os coentros, sal, ovo previamente batido e um pouco de pão ralado
  7. Retirar uma porção e moldar com a mão, polvilhando com pão ralado o exterior
  8. Fritar até mudar de cor (~5 min)

Para dar graça, pode ser adicionado um molho de tomate:
  1. Pelar 1 tomate e cortar em cubos
  2. Refogar
  3. Adicionar Molho de Pesto Rosso
  4. Verter por cima do hambúrguer e trincar