quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

"O lento aproximar da areia"

"O lento aproximar da areia" para aqueles que caminham com os pés descalços sob os espinhos das árvores caídas. O medo que lhes povoa o olhar, o saberem que não podem olhar para trás ou tropeçarão ou cairão como pequenos pássaros à mercês de caçadores. E o tempo que também corre.
Apenas conseguem correr enquanto correrem os dois.
E a areia. Essa areia de sol intenso que os retira do fresco da floresta e do medo atormentador que lá caminha.
E correm com a areia até ao limite da água. Suspiram.
Dão as mãos e mergulham no mar. Desintegrando-se na espuma do mar.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A dos postais

Ela era antiga até na memória dos outros. Era daquelas pessoas que sempre existira. E tomavam-na por certa.
Era a dos postais, a das prendas boas.
Um dia a sua vida desprendeu-se da terrena, com aquelas injustiças que só ocorrem aos justos.
Ficaram-lhe as suas palavras, os seus gestos de amor, a sua presença segura mesmo na sua ausência eterna.
Olha-se para o frigorífico, vê-se a sua letra que mudava a todos os anos como a dos adolescentes e sente-se a falta aguda das suas incoerências, da sua existência teatral e plena, mulher do século passado.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Anel

foi um anel que se cravou no sapato. um brinde ao acaso. o diamante perfurou até à carne, tal o tamanho, mas o resto era latão. estranheza ao acaso. pegou-lhe, gostou do espanto que lhe tomou todo o rosto. seria reconhecimento? sim, o cheira familiarizava-se nela. era o anel da avó de cabelos dourados. lembra-se das suas carícias arrepiadas pelo anel, mesmo tendo a avó morrido antes dela nascer. ainda assim a recordação era lúcida. pegou no anel com carinho e deu-o ao sem-abrigo mais próximo. o passado só se vive pisado com os pés.

A tua escrita hedionda.

Abomino tudo o que escreves, mas vejo-me forçada a ler. 
Desculpa, mas dedicares-me livros não dá com nada. Depois como é os faço voar pela janela?
Sei que tentas ao máximo escrever sobre o amor, mas o que sabes tu sobre o amor? Sobre amar? Sobre perder?
Tiveste uma vida santa, sem grandes conflitos, sem grandes entraves. Até se podia dizer que eras empático, mas na maioria dos dias nem ouves o que te dizem.. A senhora do quiosque estava a pedir que tu te preocupasses, que lhe perguntasses pelo marido e tu não quiseste saber! Nem sei como é que alguma vez te dei o meu número de telefone, mas agora é meio tarde, agora dependo de ti profissionalmente. 

Sinceramente, 
a tua secretária amargurada.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Pé no charco

A menina colocou a ponta do dedo grande no charco, testando-o. Círculos aquíferos soltaram-se de si.
Depois colocou o pé todo e espantou-se porque conseguia caminhar sobre as águas.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A travessia

No cais onde ela se sentava nos dias quentes passavam grandes navios. Apetrechados para viagens por mares sem fundo, onde os marinheiros são cativados por sereias e a proa por escarpas de Cabos da Tormenta. São muitos dias a bordo, só com o azul do mar e do céu por companhia. Pior é para os tímidos, que vivem tanto no seu interior e tão pouco no seu exterior. Pior para os que enjoam, os que se cansam, os doentes, especialmente aqueles que precisam de tratamento, e acabam a repousar no fundo do mar.
Ela olhava esses grandes navios e os navios mais pequenos. Para onde iam esses? A travessia do canal, a travessia do mar pequeno, um viagem de recreio? Não eram tão exóticos, tão curiosos, tão desesperados como os grandes. Ela queria era entrar num grande! Fazer uma travessia desafiante, única. Mudar o ritmo e o som da sua vida, encontrar-se a si mesma no outro sítio onde fosse. Aquele desconhecido. Seria ela igual? Atrever-se-ia a ser ela própria? Quem era ela própria?
O próprio medo não seria de descobrir?

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Ao som dos últimos dias

Decorridos todos esses anos, olhava para trás, com o doce desprendimento do tempo. Nada importava mais. Tinha sido uma vida desperdiçada com a ganância, mas não existiriam tantas? Apiedo-me de que a sabedoria da velhice só lhe ocorra agora, que bem lhe teria servido como guia de acção, como grilo falante, como despertador. Agora entardece os dias à sombra da sua pequena janela, com um resto de sol que se reflecte nas tábuas do chão.
Aguarda o gentil toque da morte. Aguarda para rever aqueles que já partiram, que atravessaram a outra margem. E assoma-o medo de que possa não ir para junto dos seus, mas para outro purgatório, onde as pessoas realmente más são esperadas.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A alma errante

É uma alma errante, de mochila às costas. Que tem pessoas, uma mão-cheia de grandes amores de vida, que nunca larga realmente.
Caminha cheia e traz-lhes sonhos, aventuras, pedacinhos de amor que encontra pelo mundo. Torna-se mais tolerante, mais amante, mais serena.
Precisa desesperadamente destes momentos de mochilão, de incerteza, de dormir numa cama estranha, de se auto-desafiar. E do momento do regresso, das saudades que tornam tudo mais belo.
De cada vez que vai, tem mais certeza de querer voltar e do lugar onde é feliz, mas ainda assim precisa desesperadamente de estar sempre a partir, por uns bocadinhos, às vezes por bocadinhos maiores. Nunca para sempre, o sempre é aqui.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Ana, caminha.

Ana caminha sempre de olhos postos no chão. Tem horror a cair. Tem também um secreto nojo de pisar secreções alheias. Perde muito mundo ao caminhar assim, mas o medo comanda-lhe esta e muitas acções.
Hoje caiu com convicção. Foi um estardalhaço. Espalhou-se ao comprido, com uma chapada no chão. E ficou-se, exactamente na mesma posição, congelada, um pé preso, as mãos em defesa da cara. Sem um só movimento.
Caiu em início de marcha, as escadas rolantes comeram-lhe o atacador e ela estatelou-se no chão.
Mãos alheias, de várias raças, ergueram-na. Reagiu apenas ao toque. Minutos passariam por si se não tivesse sido tocada. Olhou o rapaz indiano e soltou o seu braço de forma abrupta. Seria racismo? Virou as costas a todos nós, agachou-se para atacar os atacadores, irada, connosco? Consigo? Com este seu medo que não a protegera? Terei visto lágrimas nos seus olhos?
Sem um só agradecimento, mulher estatelada.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Saudades

Saudades de quem não fui. Das chances que joguei ao chão. Daquilo que deixei, mas que nunca conheci. Saudades. As eternas. Daquilo que poderia ter sido. Das possibilidades. Da vida prometida e malfadada.
Poderei recomeçar de novo?

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

com-a-Dor.

Deve ser penoso aperceberes-te que a tua filha vai viver com-a-Dor para o resto da vida. É uma dor física, nem de mais nem de menos, mas que mói, que existe. E, como o corpo foi desenhado para responder silenciosamente às exigências da mente, a-Dor tira-lhe esse sossego e silêncio.
Mas a tua filha aprende a viver com ela, porque é essa a existência que conhece. E tenta não se queixar, porque não existe fruto dessa queixa.
Desculpa não existir nada que possas fazer, mas sabe-a feliz. A-Dor é só uma extensão dela e ela já aprendeu a lidar com ela. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Cube #01 - Os amores-primeira-vista

Foi amor à primeira vista. Ele era deslumbrante, galante, com dentes que reflectem o sol. Olhava-a real e profundamente, com atenção, com o corpo todo. E ela deixou-se seguir, apaixonada e, em fim, grávida. A típica história pela qual suas amigas fugiam do amor.
Encurralada, encurralou-o.
Primeiro foi um dia de chuva. Constipado, receoso, ele não chegou ao encontro.
Depois chegou a época das neves. E o carro não estava ajustado para as derrapagens.
Seguiram-se os mimos de desculpas, o urso de peluche, as rosas, os bilhetinhos com promessas vãs.
E a ausência. A solidão do erro. As chuvas, os ventos, a neve que lhe revoltavam a alma. A espera. A longitude da espera.
E a apatia. À vida. Às escolhas que não se tomam de corpo quente. E, que a conduz ao dia em que caminha de pés despidos na neve do caminho-entre-árvores, em que vê o objecto que se desloca a alta velocidade, sem vontade de parar e ela sem vontade de sair do seu caminho.
E, a solidão eterna.
Enfim.






quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Personalização dos dias

Gosto da personalização dos dias. Das gentes que sabem o nosso nome, com quem costumamos vir acompanhados e como gostamos do café.
Gosto dos sorrisos ou das rabugices.
Gosto de as conhecer também. Ouvir quando precisam de falar ou simplesmente devolver uma simpatia.
Sou uma pessoa de bairro. Que gosta de conhecer os vizinhos e de saber qual é o melhor pão da zona, medido não só pela qualidade mas também pela pessoa que o serve.
Gosto de ter dias personalizados. É da partilha da histórias que tiro alimento para a minha imaginação e para a quebra da rotina dos dias todos-iguais. Não sei, é simplesmente algo que me faz feliz.

P.s.: Ganhamos o dia quando a senhora da gelataria finalmente nos dá conversa e um sorriso.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Desperdício Zero: Canetas

Que tipo de caneta utilizar? 

Como gosto de escrever, de tomar notas e de pensar por escrito, as canetas são um dos materiais de escritório onde preciso de repensar o meu consumo.

Nas minhas pesquisas, a tipologia que me pareceu mais sustentável foram as canetas de tinta permanente, que são:

  • Recarregáveis, 
  • Existem para todos os gostos, 
  • Têm classe, 
  • A sua escrita esforça menos o pulso 
  • e ainda têm o carinho que lhe colocamos e que as torna especiais. 

Seguindo um conselho, fui a casa dos meus pais navegar no material perdido na arrecadação e, encontrei algumas canetas de tinta permanente. Precisei de me informar um pouco sobre os vários tipos de caneta, mas tive a boa notícia de que podemos utilizar um modelo antigo, uma vez que os tinteiros e mecanismos são uniformes dentro de uma dada marca de canetas e continuam a ser comercializados. No meu caso, fiquei com uma Parker com 30 anos e posso comprar-lhe um novo conversor desta marca.

Tipos de Tinta

A tinta permanente vende-se, maioritariamente, em dois formatos, em cartuxo de plástico ou em boião de vidro. O boião de vidro, além de mais económico, é também mais sustentável.



Tipos de Enchimento de Caneta de tinta permanente

Existem vários tipos de caneta de tinta permanente com vários tipos de material, com a possibilidade de mudar o aparo, etc. Aqui descrevo-as pelas diferenças que existem na forma de enchimento com tinta.


a) Cartuxo / Cartridge
A caneta pode ser alimentada por cartuchos de tinta (em plástico).
Para evitar o desperdício de cartuchos, pode reencher-se o cartuxo com a ajuda de uma seringa ou trocar este mecanismo pelo descrito no b) - conversor.


b) Conversor
Têm um reservatório que pode ser enchido através de um mecanismo de pistão ou de bomba de sucção, directamente num boião de tinta. Este conversor é colocado no mesmo local que o cartucho.




c) Canetas com o mecanismo de enchimento incorporado: Podem ser de pistão ou de vácuo.

d) Eye-droper/Conta-gotas: Têm um reservatório maior que pode ser enchido com a tinta. Pode fazer-se essa adaptação nas canetas tradicionais de forma caseira também.

As minhas canetas

Em nossa casa só encontrei do tipo a) e b). Comprei um boião de tinta e experimentei até encontrar a que deslizava bem no papel e não tinha falhas de tinta. Fiz também uma capa para não se riscar tanto e poder transportá-la comigo.







Nota:
Informei-me em alguns blogs, como o goingzerowaste.com e zerowasthome.com, assim como em outros sítios online. Algumas dicas relevantes:

  • Como encher a caneta - link
  • 7 erros típicos - link.


Ecotótó

Porque somos ecotótós e gostamos!
Porque somos apaixonados pela Natureza e queremos preservá-la.
Vamos tentando, grão-a-grão reduzir o nosso impacto!
E sempre à procura de sermos melhores, aprendermos mais e espalharmos conhecimento.
É a nossa forma tótó de amar.

Espero que gostem! :)

terça-feira, 22 de agosto de 2017

A tonteria de te namorar

Sinto-me tontamente orgulhosa de te namorar. Orgulhosa da tua beleza e amor. Grata por te ter a meu lado. Feliz por te ter esperado.
Sabendo que é tonto sentir-me orgulhosa apenas por te namorar, mas não o deixando de sentir. Este amor que transborda e que te ama muito.
Obrigada. Todos os dias da nossa vida, seu ecotótó. E já dizia ontem a madrinha, "nós somos todo um estilo. Somos os ecotótós.". E somos orgulhosos de ser um do outro.
Andas comigo de mão dada até velhinhos?


quinta-feira, 13 de julho de 2017

A actividade desportiva

Quem não gosta de retomar a actividade desportiva?
Nada como aquela sensação dos músculos a inflamarem, a latejar de ácido láctico e a certeza de que amanhã teremos a nossa dose de dor.
Uhm, esta adrenalina! Que delícia! Mas são os desafios, esses chatos que nos forçam a vontade.

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quinta-feira, 6 de julho de 2017

Cama de Courgette com Vegetais + Molho de iogurte


Ingredientes:

1 Courgette
1 Pepino
1 iogurte natural
1 alho francês
1 ovo
100 g de quinoa
Feijão encarnado
Cogumelos Frescos
Coentros frescos
Hortelã fresca
Sumo de limão
Alho
Sal
Azeite



Preparação A:

  1. Cortar meio pepino
  2. Adicionar o pepino, sumo de limão, um fio de azeite e sal e triturar
  3. Servir numa taça com algumas folhas de hortelã

Preparação B:

  1. Cozer a quinoa com sal qb e deixar arrefecer
  2. Cortar os cogumelos e saltear com alho, um fio de azeite e coentros
  3. Cozer o ovo e cortar em fatias
  4. Laminar a courgette muito finamente
  5. Cortar o restante pepino em rodelas
  6. Cortar o alho francês em tiras
  7. Colocar uma camada de courgette, a quinoa, o feijão e os outros ingredientes a gosto.
  8. Regar com o molho de iogurte
  9. Desfrutar

Nota: É um prato muito fresco, ideal para o verão, pelo que os igredientes que têm de ser cozinhados, devem ser colocados apenas após esfriarem um pouco. 

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Que saudades

Que saudades tenho de viver num filme:
de deixar o cabelo entrançado desleixadamente,
de me rir de forma tola,
de almoçar fruta,
de ter compridas saias até aos pés que são versáteis no enrolar ao corpo,
de acordar todos os dias ao ar livre,
de ser realmente livre,
de construir as relações que se cruzarem no meu caminho,
de cantar despreocupadamente com a minha voz quebrada,
de ser genuinamente feliz.

Nos filmes, só nos filmes somos sem tempo, sem rotinas, sem repetições e sempre com a esperança de que a vida nos pertence só a nós.
E eu tenho saudades de lá viver.

terça-feira, 14 de março de 2017

O olhar fotográfico

Gosto das fotografias que tiras de mim. Gosto da pessoa que te olha. Captas a beleza em mim, a felicidade, o amor, a pessoa que só tu vês.
Talvez seja o teu olhar fotográfico que a apanha desprevenida ou realmente feliz de te olhar. Há amor nesses gestos, no gostares de me fotografar, no eu gostar de olhar para ti, do nosso toque (tão suave e imperceptível) e do nosso sincronismo.

Gosto que me apanhes feliz, o que claramente reflecte que me fazes feliz, meu amor.


terça-feira, 7 de março de 2017

A vidas dos que nos tropeçam caminho: O taxista

Os transportes públicos em Portugal são o que são. Passam-se meses sem um única queixa e depois numa semana deixam-nos pendurados em dias consecutivos.
Um dia é porque é dia de feriado que não é obrigatório e se age como se fosse sem notificar os demais. Resultado: atrasos inexplicáveis nos comboios.
Dia seguinte: há alguém que caí ou é atirado às 6h30 da manhã para a linha do comboio. E toda a situação fica descontrolada. Contudo, não conseguimos ficar realmente zangados.

Enfim, ontem, a caminho da minha aula fiquei sem autocarro. Primeiro aparece nas mensagens, depois deixa de aparecer. Uma senhora na paragem liga para outra que a informa que só aparece daí a 24 minutos. O preciosismo dos números que não arredondam! Enfim, 24 minutos perco a aula. Pego o primeiro táxi que apanho e começo a falar.

Devo ter falado muito, porque demorei algum tempo a aperceber-me do defeito da fala do senhor (um AVC ou uma nascença menos afortunada?).

Ao final de uma curva pergunto, "Porque está a ir por aqui?".
"Não quero que se zangue comigo e chegue atrasada."

É aquela chamada de atenção de que libertei o dragão da ira em mim e o deixei transparecer. E entabulou conversa e assim fomos conversando.

Soube que tinha sido chefe de serviços e que a empresa se desmobilizou para França fazendo-o perder esse trabalho. Investiu 100 mil euros num táxi. Bolas, nem sabia que era esse o custo de um táxi! E, quer trabalhar sempre para si, ser patrão de si mesmo. "Era as hipóteses que tinha. Ou isto, ou um café ou um restaurante."

"Não, não gosto de táxi. É muito duro, 12 horas para tirar rendimento." - Disse-me com um sorriso. Não gosta, mas aceita, "ah, sim, a pessoa faz o que for preciso.". Concordo.

E depois, veio a parte dura, "É que perdi a minha mulher. Faz um ano e dois meses. Ela é que me faz falta. 30 anos de casamento e 5 de namoro. "

"E tem filhos?" Sim, tem dois, com idades arredondadas à minha em unidade, e disse, "É um bocadinho dela que lhe fica."

"Mas é ela que me faz falta. Ela faz-me falta."

As pessoas vão-nos partilhando a vida e nós ficamos com vontade de lhes dar algo também, ao que ele me responde.

"Casar é fixe! Faz muito bem em casar!" - disse-me.

Cheguei à hora anunciada à aula e ainda dei dois dedos de conversa. Fiquei-lhe com a tristeza e o desconsolo de perder a pessoa amada. Parti com a certeza de que "Casar é fixe!".

É mesmo, não é?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Review "Nem todas as Baleias voam"

4 * em 5

Desengane-se quem pegar neste livro porque tem uma imensa curiosidade pela relação entre músicos de Jazz e a Guerra fria, porque esta foi uma inspiração para Afonso Cruz escrever-e-escrever sobre as suas personagens, para lhes dar contexto e as colocar a interagir umas com as outras, mas que não foi muito desenvolvida.
É, contudo, um livro musical. Com notas, sinfonias e acordes utilizadas para expressar relações e a ausência de palavras. Recomendo-o aos meus amigos que são apaixonados pela música, que sentem que esta dá cor à vida, que a ouvem no seu quotidiano, nas suas relações e como banda sonora da sua vida. 
É um livro de emoções fortes, de personagens sofridas, de histórias cruzadas (como já é hábito no autor). Afonso Cruz tem uma tendência para criar personagens sofridas, com perdas, desiguais de todas as outras, que têm uma ou outra característica muito marcante e falam filosoficamente.
Por fim, é um livro muito parecido em estilo com “A Boneca De Kokoschka”, com o qual partilha algumas personagens.

Do sonhador

Dado o contexto certo, também tu consegues criar. Acredita-me.
Diz o sonhador ao desiludido.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Aquilo que era o amor recíproco

Ela fechou os olhos. Tomou-lhe as mãos. Suspirou-lhe, soltando-se de si aquilo que ainda era amor.
Dentro de si, no escuro do dia, a vida sorria-lhe. Dentro de si, tudo existia, o amor recíproco também.

Ele manteve-se atento, curioso, como se deixava sempre ficar na presença de um animal raro, de uma delicadeza estranha, dela. Sorriu. Fora de si, era luz do dia. Fora de si, existiria, em fim, uma vida para além dela. Livre.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Review: A Herança de Estez (Sándor Márai)

****

Resultado de imagem para a herança de eszterEszter é uma solteirona que se deixou cativar por Lajos 20 anos antes. Ele, por razões pouco claras, opta por casar com sua a irmã e desaparecem da sua vida.
E, é quando Lajos resolve voltar a ver Eszter que se inicia esta história. Lajos, o furacão que revira tudo na sua passagem, e Eszter, o poço de candura, aceitação e resignação.
As personagens são caricaturais e os diálogos são fabulosamente construídos, com um construir/colapsar de tensão delicioso. São os diálogos que me fazem recomendar este livro.
E, afinal, qual é a herança de Eszter?

Review "A Espia" de Paulo Coelho

A Espia **/5

Este livro conta-nos a história de Mata Hari, a espia, e é ela que nos conta o que lhe aconteceu.
Começa bem e cativa-nos. É uma mulher de início trágico e desligada das suas origens que parte em busca de aventura, do mundo mágico, do estatuto social, mas essencialmente de se afastar de quem é e descobrir uma nova mulher.
E, depois tudo o que nos conta é um pouco desligado entre si, sendo que acontecimentos fulcrais na sua vida são deixados no esquecimento ou para 3º plano.
Paulo Coelho apresenta-nos uma mulher que defende a sua inocência, que tem uma fixação pelos bens materiais, pelas suas roupas e uma ingenuidade latente, em que se sente traída em tribunal porque ninguém admite ser seu amante.
A argumentação da inocência não é clara e infalível e, falta-nos a justificação para o que ela fez, "então se não era para espiar, porque o fizeste?".
A escrita é pouco apaixonada e desligada e tive de me esforçar para terminar o livro.