quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Cabeça cheia de ar

A cabeça bem que lhe voava para umas nuvens que ela não queria alcançar. Deixava-a voar porque era a forma de ser ela própria. Como se uma cabeça esvoaçante e cheia de ar pudesse definir algum "ser". Não podia, nem queria definir. Almá era a indefinição em pessoa. Alguém em que os contornos só destacavam os vazios. Um rabisco a carvão. Uma aguarela a quem faltara a água ou a tinta.
Ausente e com a cabeça em outro lugar, não tinha outra escolha que não a de ser feliz.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Review: Pilares da Terra ****



Review do 1º volume:

Este romance, o primeiro de dois, começa de forma lenta, com suavidade. Faz-nos conhecer as suas personagens de um ponto de vista externo, mas descrevendo tão bem os seus pensamentos e emoções, que somos obrigados a empatizar com eles. Quando já estamos presos, seguimos com ansiedade as aventuras (sim, porque naquele tempo, conseguir não morrer à fome era uma aventura), contratempos e desafios destas personagens: Tom, o pedreiro e seus filhos; a misteriosa Ellen e seu filho; William, o nobre de cabeça quente, e sua família; o mágico monge Philip e seus companheiros monásticos.
Outras personagens surgem, claramente, para desafiar a nossa atenção ao pormenor, assim como intrigas, conflitos e ambição desmedida.

O autor faz uma caracterização óptima e nada exaustiva do século XII de Inglaterra com o pretexto de descrever a construção de uma catedral. E, ainda que seja central a construção da mesma e a deslocação de interesses para este fim, o livro mostra-nos muito para além disso, faz-nos imaginar como seria viver naquela época. Em que classe social nos inseriríamos? Seríamos um homem ou uma mulher? Os nossos pais sobreviveriam intactos para cuidarem de nós até sermos autónomos?
Fantástico, deveras. Contente por já ter o segundo para começar a ler.

Review do 2º volume:

O segundo volume dos Pilares da Terra começa acelerado e é uma directa continuação do primeiro. Estes livros têm qualquer coisa que nos vicia, que nos faz querer virar páginas e saber como tudo termina. É uma verdadeira saga, cheia de acção e, com alguns abrandamentos em que escutamos as personagens no seu íntimo. Lemos também descrições complexas sobre a arquitectura de igrejas e catedrais, sendo que nem todas se encontram bem encaixadas na estória. O autor introduz também algum contexto histórico, uma vez que acompanhamos a trama política da época assim como descrições de como seria a vida naquela época. É-nos apresentado um mundo de jogo de intrigas, poder, ambição, de desigualdade entre classes e de violência. 

No centro desta estória estão as suas personagens, praticamente sempre as mesmas desde do início do romance e, ainda que algumas sejam bastantes ricas como a diferente Ellen e seu filho Jack, há outras que são bastante planas. Gostaria de ter visto o autor arriscar-se mais e utilizar diálogos contemporâneos das personagens e não tão modernos. 

No fim ficamos com alguma pena de termos acabado e começam as saudades das personagens que nos povoaram o imaginário nos últimos tempos. 

Gostei muito.