terça-feira, 14 de março de 2017

O olhar fotográfico

Gosto das fotografias que tiras de mim. Gosto da pessoa que te olha. Captas a beleza em mim, a felicidade, o amor, a pessoa que só tu vês.
Talvez seja o teu olhar fotográfico que a apanha desprevenida ou realmente feliz de te olhar. Há amor nesses gestos, no gostares de me fotografar, no eu gostar de olhar para ti, do nosso toque (tão suave e imperceptível) e do nosso sincronismo.

Gosto que me apanhes feliz, o que claramente reflecte que me fazes feliz, meu amor.


terça-feira, 7 de março de 2017

A vidas dos que nos tropeçam caminho: O taxista

Os transportes públicos em Portugal são o que são. Passam-se meses sem um única queixa e depois numa semana deixam-nos pendurados em dias consecutivos.
Um dia é porque é dia de feriado que não é obrigatório e se age como se fosse sem notificar os demais. Resultado: atrasos inexplicáveis nos comboios.
Dia seguinte: há alguém que caí ou é atirado às 6h30 da manhã para a linha do comboio. E toda a situação fica descontrolada. Contudo, não conseguimos ficar realmente zangados.

Enfim, ontem, a caminho da minha aula fiquei sem autocarro. Primeiro aparece nas mensagens, depois deixa de aparecer. Uma senhora na paragem liga para outra que a informa que só aparece daí a 24 minutos. O preciosismo dos números que não arredondam! Enfim, 24 minutos perco a aula. Pego o primeiro táxi que apanho e começo a falar.

Devo ter falado muito, porque demorei algum tempo a aperceber-me do defeito da fala do senhor (um AVC ou uma nascença menos afortunada?).

Ao final de uma curva pergunto, "Porque está a ir por aqui?".
"Não quero que se zangue comigo e chegue atrasada."

É aquela chamada de atenção de que libertei o dragão da ira em mim e o deixei transparecer. E entabulou conversa e assim fomos conversando.

Soube que tinha sido chefe de serviços e que a empresa se desmobilizou para França fazendo-o perder esse trabalho. Investiu 100 mil euros num táxi. Bolas, nem sabia que era esse o custo de um táxi! E, quer trabalhar sempre para si, ser patrão de si mesmo. "Era as hipóteses que tinha. Ou isto, ou um café ou um restaurante."

"Não, não gosto de táxi. É muito duro, 12 horas para tirar rendimento." - Disse-me com um sorriso. Não gosta, mas aceita, "ah, sim, a pessoa faz o que for preciso.". Concordo.

E depois, veio a parte dura, "É que perdi a minha mulher. Faz um ano e dois meses. Ela é que me faz falta. 30 anos de casamento e 5 de namoro. "

"E tem filhos?" Sim, tem dois, com idades arredondadas à minha em unidade, e disse, "É um bocadinho dela que lhe fica."

"Mas é ela que me faz falta. Ela faz-me falta."

As pessoas vão-nos partilhando a vida e nós ficamos com vontade de lhes dar algo também, ao que ele me responde.

"Casar é fixe! Faz muito bem em casar!" - disse-me.

Cheguei à hora anunciada à aula e ainda dei dois dedos de conversa. Fiquei-lhe com a tristeza e o desconsolo de perder a pessoa amada. Parti com a certeza de que "Casar é fixe!".

É mesmo, não é?