quinta-feira, 22 de março de 2018

Zangado

Ele tinha um andar zangado, 
como se pissasse as suas emoções. 
Acompanhava-o uma expressão sizuda, 
como se o seu riso tivesse receio de aparecer.
Era um bom homem, 
ou assim nascera antes da vida o ter tornado amarguradamente amargo.

terça-feira, 20 de março de 2018

segunda-feira, 19 de março de 2018

Dos que acreditam

- És tu a pessoa que acredita em mim?
- Sou.
- Não me falharás? Não hesitarás no último instante? Serás a minha metade lá em baixo também? Sabes que não consigo fazê-lo sem ti. - (Ele tinha a fatalidade dos que precisam da auto-extra-estima dos outros para se crerem.)
- Sou. – Ela tinha uma voz sem medo. Uma voz grisalha de amor, que confia e se entrega sem exigir.
- Fazemo-lo agora?
- Sim. Estou pronta.
E ela foi a primeira a empoleirar-se no parapeito. Puxou-o pela mão. E equilibraram-se os dois ao som do vento.
- Vamos ser mais felizes lá em baixo, não achas? Há tantos como nós lá... – a voz dele vibrava de excitação.
- Sim. Vamos?
- Sim. Bora.
Mas ela saltou sozinha. Afinal apenas o olhar dele a seguiu até lá abaixo. Mesmo assim nem no último sopro ela duvidou.

Feliz dia de um pai


Com sentido ou sem, és o único pai que tive. O outro estava lá, mas o seu silêncio arrepiava até as paredes. Sem ti seria orfã, despatriada de uma família que não me quereria nem que eu fosse silêncio também. Ser a tua família basta-me. Alegra-me. E enche-me de tudo o que a vida me tenta tirar. Obrigada, querido pai-único por me teres dado uma família que jamais poderia almejar. Agora, por favor, não te vás também no silêncio da noite.