quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ana, a louca

Ana era louca. Ana, a louca.
Ana vivia noutra dimensão e não esta, jamais esta. Já não esta. Optara assim, quando ainda a mente a deixava optar. Quando se esqueceu desta dimensão, já não podia escolher nada. Ou o que entendemos por escolher.

Ana, a louca, era a mulher do coronel. Casara-se jovem, como quem bem casado pela igreja o faz. Casara-se quando não sabia o que era um homem, ainda que agora lhe tenha retornado essa ignorância.

Esquecer. Esquecer. Quiçá o que a tornara louca era aquilo que escolhera não recordar. Quando as memórias se misturam, e se optam por esquecer umas, as que estão emaranhadas também se podem sumir. Ana, a louca, esqueceu demasiadas memórias emaranhadas em outras até se esquecer de si. A loucura consumiu-a, deixando-a só louca. Nem mulher de coronel, nem outro tipo de mulher, só a louca, como se outro adjectivo de si se desprendesse. Ana, a louca, fica só também.

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