segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Ana, caminha.

Ana caminha sempre de olhos postos no chão. Tem horror a cair. Tem também um secreto nojo de pisar secreções alheias. Perde muito mundo ao caminhar assim, mas o medo comanda-lhe esta e muitas acções.
Hoje caiu com convicção. Foi um estardalhaço. Espalhou-se ao comprido, com uma chapada no chão. E ficou-se, exactamente na mesma posição, congelada, um pé preso, as mãos em defesa da cara. Sem um só movimento.
Caiu em início de marcha, as escadas rolantes comeram-lhe o atacador e ela estatelou-se no chão.
Mãos alheias, de várias raças, ergueram-na. Reagiu apenas ao toque. Minutos passariam por si se não tivesse sido tocada. Olhou o rapaz indiano e soltou o seu braço de forma abrupta. Seria racismo? Virou as costas a todos nós, agachou-se para atacar os atacadores, irada, connosco? Consigo? Com este seu medo que não a protegera? Terei visto lágrimas nos seus olhos?
Sem um só agradecimento, mulher estatelada.

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