quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A travessia

No cais onde ela se sentava nos dias quentes passavam grandes navios. Apetrechados para viagens por mares sem fundo, onde os marinheiros são cativados por sereias e a proa por escarpas de Cabos da Tormenta. São muitos dias a bordo, só com o azul do mar e do céu por companhia. Pior é para os tímidos, que vivem tanto no seu interior e tão pouco no seu exterior. Pior para os que enjoam, os que se cansam, os doentes, especialmente aqueles que precisam de tratamento, e acabam a repousar no fundo do mar.
Ela olhava esses grandes navios e os navios mais pequenos. Para onde iam esses? A travessia do canal, a travessia do mar pequeno, um viagem de recreio? Não eram tão exóticos, tão curiosos, tão desesperados como os grandes. Ela queria era entrar num grande! Fazer uma travessia desafiante, única. Mudar o ritmo e o som da sua vida, encontrar-se a si mesma no outro sítio onde fosse. Aquele desconhecido. Seria ela igual? Atrever-se-ia a ser ela própria? Quem era ela própria?
O próprio medo não seria de descobrir?

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