sábado, 2 de novembro de 2013

Xucutru



Vou-vos apresentar o xucutru. Era meio maluco, mas simpático, redondo e azul e com uma mancha branca em forma de estrela de seis pontas no meio da cara. 
O xucutru era um pássaro. Bem, um passáro não, antes um pequeno bichinho alado que não sabia voar, mais em estilo galinácio. Também não sabia falar, exprimia-se por gatafunhos que arranhava no chão, mas como vivia só não o praticava. 

Há sonhos que não concretizamos, há muitos, armazenados em estrelas luminosas dentro de recipientes de vidro de diversas cores, categoricamente arrumados dentro de um grande e rugoso baú de madeira. Contidos em estrelas, porque é a elas que contamos os nossos maiores sonhos. As cadentes contém os mais ardentes. O xucutru vivia só para velar, com zelo, todos estas imaginações encastradas. 

Todos os dias ao cair da noite, o xucutru seleccionava, lançando um dado, qual ou quais recipientes retirar do bau. Lança o dado, até este parar de mostrar sonhos. Naquela noite, mostrou mais do dobro de ilusões do que até então lhe tinha mostrado e, o saco que xucutru enchia destes recipientes era vergado pelo peso. Cansado, caminhou até ao alto da montanha sonhadora, pesado, perguntando-se porque iria tão carregado nesse dia. Os seus botões não lhe respondiam... Lá no alto, executou o seu ritual de beijar cada recipiente e de o fazer rodar, tal qual disco de atleta, para o atirar para o céu. Sabia que tinha empregar toda a sua força e amor para o colar lá alto junto das outras estrelas. Só assim o desejo se tornava real. Demorou pelo menos o dobro do tempo do que o normal, mas sempre com igual impeto. 

Ao descer da montanha, tropeçou em algo e caiu redondo no chão. Embaraçou todo o seu pequeno e reconchudo corpo no saco vazio.  Aí, reparou que o que o derrubava era um pequeno enfeite verde e dourado. Tantos sonhos concretizados.. era a manhã do dia de Natal.

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