É que hoje cheira mesmo a chuva. E esse cheio é belo. E este
caminho também. E há tantas pessoas neste meio. Neste meio caminho.
No caminho de todos os dias já me acostumei ao livro duma
rapariga que é sempre o mesmo (por mais livros que eu troque entretanto). Já me
acostumei ao caos semi-organizado daqueles que caminham sempre com pressa.
Sempre.
Neste novo caminho vejo um senhor de meia-idade, ou um pouco
mais novo, que usa sapatos de vela coçados sem meias e esforça-se por conseguir
ler. Primeiro um caderno de pautas musicais. Vejo-lhe os lábios a
movimentarem-se e a não produzirem o som da sua cabeça.
Tem um cabelo que ondula e uma barba perfeita. Atravessa-lhe
o peito algo laranja. Uma gravata laranja? Seria demasiado gritante. Não,
trata-se de uma mala, onde tudo o que ele começa lá acaba. Guarda então a pauta
desanimado. Pega no kindle. Tenta mover os lábios. Perde-se o olhar no
exterior. De novo. Desiste de ler e retorna o kindle à mala-Doramon. Onde vais
tu, músico de comboio?
Onde estão as tuas meias neste dia frio?
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