segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Os novos caminhos

Há um curioso destino em nos deslocarmos de outra forma. Hoje atravesso a minha cidade de comboio. Sento-me no piso superior onde vejo o céu a puxar chuva.
É que hoje cheira mesmo a chuva. E esse cheio é belo. E este caminho também. E há tantas pessoas neste meio. Neste meio caminho.
No caminho de todos os dias já me acostumei ao livro duma rapariga que é sempre o mesmo (por mais livros que eu troque entretanto). Já me acostumei ao caos semi-organizado daqueles que caminham sempre com pressa. Sempre.
Neste novo caminho vejo um senhor de meia-idade, ou um pouco mais novo, que usa sapatos de vela coçados sem meias e esforça-se por conseguir ler. Primeiro um caderno de pautas musicais. Vejo-lhe os lábios a movimentarem-se e a não produzirem o som da sua cabeça.
Tem um cabelo que ondula e uma barba perfeita. Atravessa-lhe o peito algo laranja. Uma gravata laranja? Seria demasiado gritante. Não, trata-se de uma mala, onde tudo o que ele começa lá acaba. Guarda então a pauta desanimado. Pega no kindle. Tenta mover os lábios. Perde-se o olhar no exterior. De novo. Desiste de ler e retorna o kindle à mala-Doramon. Onde vais tu, músico de comboio?
Onde estão as tuas meias neste dia frio?

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