segunda-feira, 29 de junho de 2015

Quando era pequena.. e os gostos ficaram.

Quando era pequena, nas férias de verão ficava às vezes com a minha avó. Em Lisboa, porque tenho uma avó citadina, que já nasceu cá. 
Nessas férias, ia todos os dias ao mercado, ao que se desce de casa da avó, não ao que se sobe. Talvez o peixe nesse fosse melhor, as senhoras mais simpáticas ou talvez fosse apenas aquele que era mais perto da casa da Senhora Rosa. E, todos os dias escolhia o peixinho do almoço (cujo gosto já não consigo recordar), acompanhado por feijão verde ou por uma saladinha de alface cortadinha em faixas muito fininhas. A alface da Senhora Rosa foi a primeira comida de que me lembro de gostar! Também não me lembro de comer outra coisa que não peixe, ainda que me recorde do cheiro de um take-away perto do mercado.
E lá ia, a menina, única neta-menina da minha avó, demasiadas vezes com uma palmeira na cabeça, a caminho do mercado. Com um caminho cheio de bochechas apertadas pelas amigas da avó e invocações de semelhanças ao pai. E um destino que deixava as solas dos sapatos a cheirar a peixaria... 
Quando era pequena, e escolhia o meu almoço todos os dias, gostava de antecipar sabores na boca. Engolia em seco imaginando que comida escorregava, e decidia o que queria. Este era o almoço que me sabia melhor, aquele escolhido a dedo e preparado com o humor do dia.
Quando era pequena, comia o almoço que queria no meu dia-a-dia, os sabores e ingredientes que o meu corpo pedia e os sorrisos e as simpatias daqueles com quem me cruzava. Quando era pequena, era decidida (mesmo de palmeira na cabeça!) e gostava de me passear em frente de bancas de comida e escolher a dedo o que queria. Quando era pequena... os meus gostos ficaram moldados ao fresco, cheiroso e volátil de cada dia. Talvez, por isso, se mantenha o gosto de querer experimentar em cada dia o que esse dia pede.

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