quarta-feira, 1 de julho de 2015

Mestres planeadores

Maria e António eram os mestres planeadores. Nada era simples no seu imaginário, quando a mãe pedia, "Maria, podes ir comprar uma galinha?", logo, a Maria elaborava um plano do que poderia fazer no caminho, na chegada e na volta. Raramente o elaborava sozinha, porque o faria?, tinha o António. E os seus planos, nos seus imaginários, incluíam escapar a répteis-com-pelo (refilios) que lhes ladravam no caminho, e a bonecas de cera rugosas (ceríssimas) que lhes queriam pegar (e amachucar?). Não eram planos fácil porque implicavam vestir uma invisibilidade qualquer e retirar o cheiro que tinham a humanos-pequenos. Como se tornarem invisíveis e sem cheiro para que pudessem escapar-se aos seus predadores?

Para que um plano funcionasse, tinham de nomear tudo com que se deparavam, flores, árvores e vendedores. Estes últimos podiam ser carnídeos, verditos ou futílissimos, consoante vendessem, respectivamente (e obviamente!) carne, produtos da terra ou produtos feitos pelo homem. O tratamento teria de ser, claramente, diferenciado. Cada qual com seu ofício e sorriso.

O quanto se divertiam a criar formas de escapar e evadir-se ao mal, "porque o bem sempre triunfa, Maria!". Havia os planos mais traquinas, que repetiam até serem apanhados: 1) Como retirar os patins da prateleira de cima, sair de casa com uma boa justificação para o volume por dentro da camisola e voltar a casa depois da brincadeira, 2) Como esvaziar uma lata de leite condensado sem ninguém dar por nada (excepto aquando a serradura fosse feita?), 3) Como mudar as horas de todos os relógios de casa para que pudessem ouvir estórias encantadas até mais tarde?.

Maria e António eram gémeos e pequenos génios. Do bem, porque na tranquinice o bem vence sempre.

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